27 anos atrás: o dia que Pokémon levou quase 700 pessoas ao hospital

27 anos atrás: o dia que Pokémon levou quase 700 pessoas ao hospital

Um dos episódios mais polêmicos da história da TV quase marcou o fim de uma das maiores franquias de todos os tempos.

Pokémon, um dos animes mais populares do mundo, quase viu sua trajetória interrompida de forma precoce por um incidente ocorrido em 16 de dezembro de 1997. Na ocasião, o 38º episódio da série, intitulado “Dennō Senshi Porygon” (ou “Porygon, o Soldado Cibernético”, em português), causou um verdadeiro alvoroço no Japão. A exibição do episódio levou 685 pessoas — a maioria crianças — ao hospital, gerando uma crise de proporções tão grandes que o futuro do anime ficou em risco.

Relembre o impacto:

O que aconteceu no episódio “Dennō Senshi Porygon”?

A cena em questão, com apenas cinco segundos, mostrou o Pikachu usando seu famoso choque elétrico para resolver uma situação. Na sequência, uma explosão gerada por esse ataque trouxe flashes vermelhos e azuis que pulsavam de forma extremamente rápida.

O efeito estroboscópico desses flashes foi suficiente para provocar sintomas graves em centenas de espectadores, incluindo dores de cabeça, náuseas, convulsões e ataques epilépticos fotossensíveis. Naquele momento, quase quatro milhões de crianças acompanhavam o episódio semanalmente, tornando o impacto ainda maior.

O problema piorou quando noticiários japoneses reproduziram a cena, desencadeando novos casos de internações. O incidente rapidamente foi apelidado pela mídia de nomes como “Pokémon Shock” e “Porygon Shock”, consolidando-se como um dos eventos mais controversos da história da televisão japonesa.

Saca só esse desenho louco:

Impacto na franquia Pokémon e as consequências

O impacto foi devastador. Além das centenas de internações, o caso gerou preocupações profundas sobre a segurança de produções animadas no Japão, levando a discussões sobre regulamentações na indústria. Houve até mesmo quem sugerisse que o anime fosse cancelado permanentemente.

Porém, Pokémon já era um fenômeno cultural em ascensão. A popularidade da franquia, que havia se expandido para brinquedos, jogos de videogame e produtos licenciados, fez com que os produtores resistissem à ideia de cancelamento. O anime ficou fora do ar por quatro meses, retornando apenas em 16 de abril de 1998, com um novo horário e diretrizes de segurança rigorosas.

O episódio 38 nunca mais foi exibido em nenhuma parte do mundo, e o personagem Porygon, junto com suas evoluções, foi banido do anime, apesar de o problema ter sido causado pela explosão gerada pelo Pikachu.

Veja a comparação:

Como Pokémon moldou novas regras de segurança

A crise gerou mudanças drásticas nas diretrizes para produções de anime no Japão. Médicos e emissoras se uniram para implementar normas que evitassem novos incidentes relacionados a efeitos visuais. Entre as medidas estabelecidas estavam:

  • Imagens piscantes com a cor vermelha não poderiam piscar mais de três vezes por segundo.
  • Flashes sem a cor vermelha não poderiam ultrapassar cinco piscadas por segundo.
  • Essas imagens não deveriam ser exibidas por mais de dois segundos consecutivos.
  • Efeitos visuais como listras, redemoinhos e círculos não poderiam ocupar grandes áreas da tela.

Quando Pokémon voltou ao ar, os episódios passaram a incluir um aviso prévio agradecendo ao público pelo apoio e explicando as medidas tomadas para evitar novos problemas. A partir de então, a segurança visual se tornou uma preocupação constante na produção de animes, impactando todo o mercado.

Pokémon: Um gigante que sobreviveu à polêmica

Mesmo após o incidente, Pokémon continuou sua trajetória de sucesso, se transformando em uma das maiores franquias do mundo. Hoje, a série engloba jogos, filmes, cards colecionáveis e uma infinidade de produtos licenciados, movimentando bilhões de dólares anualmente.

Desde seu lançamento em 1996, com os primeiros jogos “Pokémon Red” e “Blue” para Game Boy, a franquia evoluiu para capturar a imaginação de gerações. O anime, em particular, ajudou a dar rosto e voz aos personagens que os jogadores conheciam nos games, estabelecendo uma conexão emocional com o público.

Além disso, Pokémon expandiu seus horizontes com filmes de sucesso global, como “Pokémon: O Filme” (1998), que arrecadou mais de US$ 170 milhões nas bilheterias, e o recente “Detetive Pikachu” (2019), que misturou live-action e animação em uma história inovadora.

Os jogos da franquia continuam quebrando recordes, com lançamentos como “Pokémon Scarlet” e “Violet” (2022), que bateram marcas históricas de vendas. E mesmo após décadas, Ash Ketchum finalmente se tornou o campeão mundial em 2022, encerrando uma jornada de 25 anos que emocionou fãs de todas as idades.

Legado de um fenômeno cultural

O “Choque de Pokémon” poderia ter sido o fim de uma era antes mesmo de ela começar. No entanto, a força da franquia provou ser maior que a crise. O incidente de 1997 não apenas mudou a forma como animes são produzidos, mas também consolidou Pokémon como uma marca resiliente e inovadora.

Hoje, Pokémon é muito mais do que um anime ou um jogo. É um fenômeno global que continua a inspirar, divertir e conectar pessoas de todas as idades e culturas.

Enquanto o episódio 38 permanece no limbo da história, sua lição continua viva: a responsabilidade com o público deve estar no coração de qualquer produção. E, apesar dos altos e baixos, Pokémon segue firme como um dos maiores símbolos da cultura pop mundial.

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