Conheça os blocos afro mais tradicionais de Salvador, que mantêm viva a cultura afro-brasileira, com resistência e celebração no Carnaval.
O Carnaval de Salvador é famoso por sua energia contagiante, mas uma das suas maiores riquezas está nas suas manifestações culturais afro-brasileiras. Os blocos afro e afoxés desempenham um papel fundamental na preservação das tradições de resistência e celebração da ancestralidade africana.
Esses blocos, carregados de história e significado, continuam a emocionar os foliões e reforçar a identidade baiana.
1. Ilê Aiyê
Fundado em 1974, o Ilê Aiyê nasceu no bairro do Curuzu e tem como um de seus maiores símbolos a figura de Mãe Hilda, que guiou o bloco até 2009. Possui um profundo vínculo com o candomblé e outras manifestações religiosas de matriz africana.
O Ilê Aiyê realiza um dos rituais mais emocionantes do Carnaval, abençoando a saída do bloco com a presença de pombas brancas e alimentos dedicados aos orixás. Ao longo dos anos, o Ilê Aiyê se tornou um símbolo de resistência cultural.
O bloco também desempenha um papel crucial na formação e na conscientização de jovens que buscam aprender sobre a história e a cultura afro-brasileira.
2. Olodum
O Olodum é um dos blocos mais conhecidos não só em Salvador, mas em todo o Brasil e no mundo. Criado em 1979, o bloco ganhou reconhecimento internacional por sua força musical e pela sua presença em diversas manifestações culturais.
A palavra Olodum, que significa “Deus Maior” em yorubá, representa a divindade suprema e é um símbolo de respeito à religiosidade afro-brasileira.
Além de suas participações no Carnaval, o Olodum tem um calendário extenso de atividades culturais e sociais. O bloco também é uma das maiores referências do ritmo samba-reggae, que se espalhou pelo Brasil e mundo.
3. Cortejo Afro
Criado em 1998, o Cortejo Afro é um dos blocos mais respeitados de Salvador. Sua formação é marcada pela presença de artistas plásticos, músicos e dançarinos, que trazem à tona a beleza da estética africana e das influências afro-brasileiras.
O grupo, idealizado pelo artista Alberto Pitta, utiliza a música, dança e as artes visuais para criar um espetáculo que celebra a cultura africana e promove uma verdadeira reinterpretação musical.
Ao longo dos anos, o Cortejo Afro foi além das ruas do Carnaval, promovendo seminários, exposições e cursos de formação profissional. O bloco também desenvolve projetos sociais com o objetivo de promover a autoestima e empoderamento da comunidade negra.
4. Malê Debalê
Com mais de 30 anos de história, o Malê Debalê é um bloco que se destaca pela sua luta contra o racismo e afirmação da identidade negra no Carnaval. Criado por um grupo de jovens de Itapuã, o bloco faz homenagem à Revolta dos Malês, uma importante revolta de escravizados muçulmanos que aconteceu em 1835 na Bahia.
Sua música e suas fantasias trazem à tona questões sociais e reflexões sobre a história negra. O Malê Debalê tem uma agenda de atividades culturais ao longo do ano, com participação em movimentos sociais e projetos culturais voltados para a comunidade negra.
5. Didá
O bloco Didá é um marco na história da música afro-baiana. Com mais de 30 anos de trajetória, o Didá se destaca como a primeira banda feminina afro-percussiva do Brasil.
O nome do bloco, que significa “o poder da criação” em yorubá, faz alusão à força das mulheres negras que, através da música e da dança, carregam a ancestralidade em cada batida de tambor.
O Didá, localizado no bairro do Maciel Pelourinho, também promove atividades socioeducativas para mulheres e crianças, reforçando seu compromisso com a inclusão social e o empoderamento feminino.
6. Filhos de Gandhy
Fundado em 1949 por estivadores do Porto de Salvador, o Filhos de Gandhy é um dos blocos afro mais conhecidos e reverenciados do Brasil. O bloco foi inspirado nos princípios de não-violência e paz de Mahatma Gandhi, adotando um repertório musical focado no ritmo ijexá e cânticos de origem yorubá.
A agremiação, que também tem um forte vínculo com as tradições religiosas de matriz africana, realiza rituais como o padê para Exu, que marca a saída do bloco no Carnaval.
Além de suas atividades no Carnaval, o Filhos de Gandhy mantém uma agenda religiosa e cultural o ano todo, com participações em festas como a Lavagem do Bonfim.
7. A Mulherada
O bloco A Mulherada é uma das iniciativas mais inspiradoras do Carnaval de Salvador. Fundado com o objetivo de promover a inclusão social e cultural das mulheres negras, o bloco conta com uma banda percussiva formada por adolescentes de 14 a 17 anos.
O grupo surgiu da necessidade de dar visibilidade à luta por igualdade de gênero e ao respeito à diversidade, celebrando a cultura afro-brasileira com um forte compromisso social.
Este bloco não se limita apenas às festividades do Carnaval. Ao longo do ano, realiza ações que buscam incluir mulheres e jovens em situação de vulnerabilidade social.
8. Muzenza do Reggae
O Muzenza do Reggae é um dos blocos afro mais inusitados de Salvador, com forte influência do reggae jamaicano. Criado em 1981, no bairro da Liberdade, o bloco se destaca por levar às ruas as mensagens de amor e liberdade típicas da música de Bob Marley.
Com o nome derivado do termo Bantu que faz referência aos iniciados no Candomblé Angola, o Muzenza tem como base os valores afro-brasileiros. A mensagem de resistência e união no Muzenza é transmitida através de suas músicas e fantasias e da música calcada no reggae afro-brasileiro.
9. Filhos do Congo
O Filhos do Congo é um dos blocos mais antigos e tradicionais de Salvador, com raízes profundas na cultura afro-baiana. O grupo tem sua origem no início da década de 1920, quando o bloco foi fundado pelo babalorixá Velho Rodrigo no bairro do Dique do Tororó.
Depois de um período de pausa, o bloco foi revitalizado por Ednaldo Santana dos Santos, conhecido como Nadinho do Congo, e segue celebrando as tradições afro e as rituais religiosos de matriz africana.
10. Os Negões
Criado em 1982, o bloco Os Negões surgiu da união de artistas, militantes e esportistas que desejavam celebrar o Carnaval juntos, sem se dividir entre diferentes blocos.
Inicialmente, o grupo era composto apenas por homens altos (acima de 1,80m), mas em 1995 o bloco passou a incluir mulheres e pessoas mais baixas. O nome do bloco representa a unidade entre todos os negros, independentemente de sua altura ou classe social.
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