Polícia dos EUA começa a usar IA para redigir relatórios de ocorrências

Polícia dos EUA começa a usar IA para redigir relatórios de ocorrências

Oklahoma City é pioneira na utilização de tecnologia para agilizar processos, mas uso de IA em relatórios policiais gera debates sobre impactos na justiça.

A Polícia de Oklahoma City está experimentando uma nova ferramenta que promete revolucionar a forma como relatórios de ocorrências são redigidos. Utilizando inteligência artificial (IA), os policiais agora podem gerar relatórios preliminares em segundos, baseados nas gravações de áudio capturadas pelas câmeras corporais.

A tecnologia é fornecida pela Axon, conhecida por seus dispositivos de choque e câmeras corporais, e utiliza uma versão ajustada do mesmo modelo de IA por trás do ChatGPT. O objetivo é economizar tempo e permitir que os agentes foquem mais no trabalho de campo.

O policial Matt Gilmore, por exemplo, viu seu relatório ser gerado em apenas oito segundos, incluindo detalhes que ele próprio não havia notado, como a cor do carro dos suspeitos mencionada por outro agente.

“Foi um relatório melhor do que eu poderia escrever, e estava 100% correto,” afirmou.

A promessa de transformação no trabalho policial

A ideia por trás da nova ferramenta, chamada Draft One, é clara: reduzir o tempo gasto com tarefas administrativas para que os policiais possam dedicar mais tempo às atividades em campo.

“Eles se tornam policiais porque querem fazer o trabalho policial, e passar metade do dia inserindo dados é uma parte tediosa do trabalho que eles detestam,” explica Rick Smith, CEO da Axon.

Em cidades como Lafayette, Indiana, e Fort Collins, Colorado, o uso da IA já se expandiu para todos os tipos de relatórios, o que demonstra o potencial de adoção generalizada dessa tecnologia no futuro próximo.

Contudo, a sua aplicação é limitada, por enquanto, a ocorrências menores, como explicado pelo capitão Jason Bussert de Oklahoma City: “Sem prisões, sem crimes graves ou violentos.”

A tecnologia fornecida pela Axon utiliza uma versão ajustada do mesmo modelo de IA por trás do ChatGPT

Preocupações com precisão e impactos na justiça

Apesar da empolgação, o uso de IA na produção de relatórios policiais não está livre de críticas. Procuradores e especialistas jurídicos expressam receios sobre a automação excessiva e a possibilidade de erros ou distorções.

Andrew Ferguson, professor de Direito da American University, alerta para o risco de que a tecnologia introduza informações falsas nos relatórios, problema conhecido como “alucinação” de IA. Além disso, ele enfatiza que o relato policial é fundamental na decisão sobre a legalidade de uma detenção, sendo muitas vezes a única evidência apresentada em juízo.

Outro ponto levantado é a potencial influência de preconceitos raciais e sociais embutidos nas tecnologias de IA, como destaca Aurelius Francisco, ativista comunitário em Oklahoma City. Ele teme que o uso da IA facilite práticas policiais opressivas, especialmente contra minorias.

“A tecnologia sendo usada pela mesma empresa que fornece Tasers é alarmante,” comenta Francisco.

Perspectivas futuras e a necessidade de regulação

Com a adoção crescente da IA para redigir relatórios, há um consenso de que discussões públicas e regulamentações são necessárias para equilibrar os benefícios com os riscos potenciais.

A Axon reconhece os desafios e continua ajustando a tecnologia para garantir que as narrativas geradas sejam estritamente baseadas nos fatos capturados, sem introdução de elementos fictícios.

Enquanto o uso da IA avança, a forma como os policiais interagem com as ocorrências pode mudar. A tendência é que os agentes sejam incentivados a descrever mais verbalmente as situações, facilitando o trabalho do sistema de IA em gerar relatórios precisos e completos.

Para os policiais, essa tecnologia representa um alívio da carga administrativa. Para os críticos, é um terreno que precisa ser explorado com cautela e supervisão.

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