A primeira equipe trans da Espanha fez sua estreia na liga masculina, e eu só consigo pensar no impacto que isso vai ter no esporte.
Eu nunca achei que veria algo assim no futebol, e olha que acompanho o esporte e os assuntos LGBT há anos. Era uma questão de tempo, mas parece que esse dia chegou: em meio a toda a polêmica sobre atletas trans atuando no mundo do esporte, uma equipe de um pequeno clube nos arredores de Barcelona entre em campo.
O batismo: um nome carregado de significado
Que o futebol sempre foi um espaço onde a masculinidade tradicional dominou, não é novidade. Difícil era difícil imaginar a integração de uma equipe como o Fênix FC no futebol de clubes espanhol.
A estreia da primeira equipe de futebol do mundo formada exclusivamente por homens trans é um feito que vai muito além do esporte.
Baseado na imagem mitológica de uma ave que renasce a partir das próprias cinzas, depois da sua morte, o Fênix FC dá uma nova vida ao futebol, e aos jogadores da sua equipe.
Afinal, eles carregam o peso do preconceito, da discriminação, e ainda assim, entram em campo como se tivessem o mundo inteiro nas costas, mas sem desistir.
Superando preconceitos dentro e fora do campo
O caminho até essa estreia não foi fácil. Hugo Martinez, um dos jogadores do Fênix FC, passou por dificuldades ao iniciar sua transição. Ele era um “menino jogando no time das meninas”, como ele mesmo disse, sem poder se identificar como queria.
O preconceito e os insultos nas arquibancadas o afastaram do futebol feminino, mas também acenderam a chama que o levou a criar esse time revolucionário.
E foi essa busca por um ambiente seguro, sem os olhares de julgamento, que levou à formação do Fênix FC. O time, que agora disputa a quinta divisão da liga regional na Catalunha, nasceu como um espaço para esses homens trans não apenas jogarem, mas serem eles mesmos.
“Mais que futebol, o Fênix é uma família”, como diz o capitão Luke Ibanez: um lugar onde se pode ser livre e autêntico, sem medo.
Perder faz parte: vitória verdadeira é outra
Na estreia do time, jogando na 5a divisão por um clube das periferias de Barcelona, o placar foi duro: 19 a 0. Mas não é isso que realmente define o time, afinal treino é treino e jogo é jogo.
O que importa é a luta pelo direito de jogar, de estar ali, competindo de igual para igual, encontrando comunidade entre os jogadores, num espaço seguro.
E essa luta é mais importante que qualquer placar. A inclusão no futebol espanhol abre portas para que outros times se formem – quem sabe no Brasil também? – e mostra que o esporte precisa ser um lugar de igualdade.