Natural do Rio de Janeiro, Cicero foi uma figura icônica também para o cenário da MPB, conhecido principalmente por sua colaboração com a irmã, Marina Lima.
Antonio Cicero, um dos maiores poetas e letristas da música brasileira, nos deixou ontem, aos 79 anos. Desde o final dos anos 70, suas letras tocaram corações e embalaram os dias de gerações. Vamos recordar os sete hits que você talvez não soubesse que foram escritos por este gênio da poesia.
O Legado Musical de Cicero
Com uma carreira que se estendeu por décadas, Antonio Cicero deixou um legado musical incomparável. Suas letras são uma mistura de poesia e melodia, que ressoam profundamente com os ouvintes. Hits como “À Francesa” e “Vigem” são apenas alguns exemplos do seu talento inigualável. Ao lado de Marina, ele trouxe à vida canções que se tornaram verdadeiros hinos da MPB.
1. À Francesa
“À Francesa” é uma das canções mais memoráveis da parceria entre Antonio Cicero e Marina Lima. Duvido que você não tenha começado um karaokê com “Meu amor, se você for embora… Sabe lá o que será de mim!”. É tão concorrida como entoar o clássico “Evidências”, de Chitãozinho e Xororó.
Longe da referência do Sertanejo, no entanto, esse pop dançante foi lançado em 1989. A música traz uma melodia envolvente e letras que falam sobre a complexidade dos relacionamentos. A canção é um convite à reflexão sobre o amor e as suas nuances, encapsulando a essência da MPB. Abaixo você pode conferir uma bela interpretação de Marina Lima, que eternizou os versos do irmão naquela que talvez seja a sua canção mais famosa.
Escute aqui:
2. Virgem
Outra composição brilhante de Cicero, também cantada por Marina, é “Virgem,” que destaca a vulnerabilidade num momento de término de relação. Se “as coisas não precisam de você”, o seu amante também não precisa, viu? Pegue a dica.
A música é cheia de momentos de cumplicidades, citando o famoso Hotel Marina, do bairro Carioca do Leblon, que nada tem a ver com a cantora Marina, que foi habitante da Zona Sul por longas décadas. Aliás, o imaginário poético das letras de Antonio Cícero passeia muito pela cidade, e o Leblon também vai aparecer em outro momento do nosso Top 7: continue lendo!
Falando no Leblon, outra citação erudita do autor dá conta da menção ao poema de Carlos Drummond de Andrade “Os inocentes do Leblon“. É coisa chique, viu?
De fato, é retrato sensível dos sentimentos que todos nós experimentamos ao longo da vida. A canção foi um grande sucesso, especialmente na voz de Marina, e continua a emocionar ouvintes até hoje.
Aprecie aqui:
3. Acontecimentos
“Acontecimentos” é uma canção que fala sobre as reviravoltas da vida e os momentos que nos marcam. Com uma melodia suave e um pouco romântica, ao gosto das aberturas de novela dos anos 90, Cicero consegue transmitir uma mensagem profunda e universal.
Essa música nos lembra que amar é querer estar preso e, ao mesmo tempo, ser impossível prender o parceiro. Tudo isso faz parte da nossa jornada. Você pode ouvir essa obra-prima no disco de Marina Lima de 1991.
Ouça abaixo:
4. Sem Medo Nem Esperança
Um clássicos mais recente da MPB, “Sem Medo Nem Esperança”, foi lançado pela não menos saudosa Gal Costa. Nele, a cantora baiana destaca momentos decisivos que temos em pontos-chave da vida.
Repleta de guitarras com riffs cativantes, a letra pode parecer desesperançada por dizer: “Eu viveria tantas mortes / E morreria tantas vidas / E nunca mais me queixaria”.
Lançada numa maré coletiva em que as incertezas políticas imperavam, a canção é uma reflexão sobre quem podemos ser, e a busca por um caminho, sendo um verdadeiro grito de liberdade. Na voz de Gal, a interpretação é emocionante, mesmo que não tenha despertado muita atenção.
Mais recentemente, a cantora Filipe Catto fez uma nova versão, que atualiza ainda mais o sentimento de serenidade diante da vida.
Mas na voz de Gal sempre será melhor:
5. Inverno
A colaboração entre Antonio Cicero e Adriana Calcanhotto também foi longa. “Inverno” é um dos pontos altos da carreira do letrista, e foi um grande sucesso na voz da cantora gaúcha. Mesmo vindo de uma das regiões mais frias do país, é no Leblon que o inverno é mais glacial.
Chega a ser irônico para as altas temperaturas do bairro carioca, mas, com uma melodia que evoca o clima da estação, a letra fala sobre a solidão e a introspecção, temas universais. A performance de Calcanhotto é pura poesia.
Escute:
6. O Circo
“O Circo” é uma canção que mistura nostalgia e fantasia. A letra traz imagens vívidas e simbolismos que capturam a essência do espetáculo e da vida.
Segundo o próprio autor, os bichos e imagens que aparecem na letra, “leão”, “camelo”, “garoto acrobata”, são inspirados na obra de Nietzsche, Assim Falou Zaratustra. É que o poeta, formado em Filosofia, também lançou inúmeros livros de ensaio.
Maria Bethânia gravou essa no álbum Âmbar, de 1991. É uma obra que nos leva a refletir sobre o que é real e o que é apenas uma ilusão. A interpretação da Abelha-Rainha dá vida a essa canção mágica. Ela também é famosa por interpretar canções de Roberto Carlos, de quem a gente já falou aqui no Paraty.
Aqui ela:
7. Maresia
Por fim, “Maresia” é uma das canções mais conhecidas de Antonio Cicero. A letra poética é um tributo ao mar e à liberdade, temas muito presentes na cultura carioca. A melodia gingada e envolvente convida o ouvinte a se tornar um marinheiro, em busca de “um amor em cada porto”.
Essa canção é um verdadeiro convite à conexão com a natureza. Você pode ir ouvir agora a Adriana Calcanhotto cantando essa música no link para a playlist no fim dessa página!
Ouça essa lapada!
A Imortalidade de um Poeta
Antonio Cicero não é apenas um nome entre muitos; ele é um imortal da Academia Brasileira de Letras. Sua contribuição à cultura brasileira é inestimável e será lembrada por muito tempo. A memória de suas letras e a beleza de suas composições permanecerão vivas na mente e no coração dos fãs de MPB.
As canções que exploramos aqui são apenas uma amostra do impacto duradouro que ele teve na música e na poesia.
Com sua partida, o Brasil perde um grande artista, mas sua poesia permanecerá eterna. Que seus versos sigam nos inspirando e nos emocionando, como só Antonio Cicero soube fazer.
A música é uma forma de imortalidade, e, assim, podemos ter certeza de que a magia de Cicero continuará a ecoar nas ondas do rádio e nas playlists de todos nós por muitos e muitos anos. Vamos celebrar a vida e a obra desse poeta que, com suas palavras, nos ensinou a ver o mundo com um olhar mais profundo e sensível.
Ouça mais Antonio Cicero gravado pelas mais variadas vozes da música brasileira: