Haka no Parlamento: entenda tudo sobre o protesto de uma deputada maori que abalou a Nova Zelândia

Haka no Parlamento: entenda tudo sobre o protesto de uma deputada maori que abalou a Nova Zelândia

Dança tradicional se transforma em um ato político poderoso contra uma lei polêmica.

Recentemente, o parlamento da Nova Zelândia foi palco de um episódio marcante e controverso. A deputada maori Hana-Rāwhiti Maipi-Clarke realizou um Haka, a emblemática dança tradicional de seu povo, enquanto rasgava uma cópia de um projeto de lei. O ato, acompanhado de gritos de guerra, chamou atenção para os conflitos históricos e atuais entre o governo e os direitos dos povos indígenas.

O episódio, que rapidamente se tornou viral, gerou reações diversas. Enquanto alguns viram o gesto como um desrespeito ao protocolo parlamentar, outros destacaram a coragem e o simbolismo do protesto. O presidente do parlamento, Gerry Brownlee, visivelmente irritado, suspendeu a sessão. Mas por que essa manifestação causou tanto impacto? Aqui estão os seis pontos principais que explicam a polêmica.

Antes de começar, veja o babado:

1. O que é o Haka e por que foi usado?

O Haka é uma dança tradicional dos maoris, os povos indígenas da Nova Zelândia. Com movimentos vigorosos, batidas no peito, olhares intensos e gestos exagerados como abrir os olhos e mostrar a língua (pukana), o Haka era originalmente usado em contextos de guerra para intimidar adversários.

Ao longo dos anos, sua função se ampliou, sendo usado também em cerimônias para honrar mortos, celebrar eventos ou, como no caso da deputada, expressar resistência. No parlamento, o Haka de Maipi-Clarke simbolizou a força e a indignação de seu povo diante de um projeto de lei que, segundo ela, ameaça as terras maoris.

2. A luta contra a desproteção das terras indígenas

O principal motivo do protesto foi um projeto de lei que reinterpreta o Tratado de Waitangi, documento histórico firmado em 1840 entre a Coroa Britânica e os maoris. Esse tratado, que deveria garantir direitos e proteção aos povos indígenas, é fonte de controvérsias devido a um erro de tradução histórico.

  • Na versão em inglês, os maoris teriam cedido sua soberania à Coroa Britânica.
  • Na versão em maori, o texto sugere um acordo de governo compartilhado entre as partes.

Esse erro gerou séculos de disputas sobre terras e recursos. A deputada e outros líderes maoris temem que a nova lei enfraqueça ainda mais os direitos já fragilizados do povo indígena.

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3. Maipi-Clarke já utilizou o Haka antes

Esta não foi a primeira vez que a deputada usou o Haka como ferramenta de protesto. Em seu discurso inaugural no parlamento, ela também realizou a dança para marcar sua posição como defensora das causas maoris.

Aos 26 anos, Maipi-Clarke é uma das deputadas mais jovens do país e, desde sua eleição, se destaca por sua postura firme e muitas vezes considerada radical. Seus atos dividem opiniões: para uns, ela é um símbolo de resistência; para outros, suas ações são vistas como inadequadas para o ambiente político.

4. O Haka: uma dança multifuncional

Apesar de sua origem como dança de guerra, o Haka é muito mais do que um símbolo de combate. Ele é usado para:

  • Demonstrar força e unidade em contextos competitivos, como nas apresentações dos All Blacks, o famoso time de rugby da Nova Zelândia.
  • Expressar luto e honra em funerais, como uma despedida emocional para entes queridos.
  • Celebrar ocasiões especiais ou reivindicar direitos, como no caso de Maipi-Clarke no parlamento.

O poder do Haka está em sua capacidade de transmitir emoções intensas e conectar as pessoas à cultura maori, sendo uma forma de comunicação carregada de significado.

5. O contexto histórico do conflito entre maoris e britânicos

O Tratado de Waitangi, assinado em 1840, marcou a relação entre os maoris e os colonizadores britânicos. No entanto, o acordo foi continuamente desrespeitado, resultando em perda de terras, marginalização e exploração do povo maori.

O erro de tradução no tratado apenas intensificou o conflito, criando duas interpretações incompatíveis:

  • Para os britânicos, significava submissão total dos maoris à Coroa.
  • Para os maoris, representava uma aliança onde os dois lados governariam juntos.

Desde então, a luta por reparações e reconhecimento pleno dos direitos indígenas é uma constante na política neozelandesa.

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6. Reações ao protesto

O gesto de Maipi-Clarke dividiu opiniões tanto dentro quanto fora do parlamento.

  • Críticos: Alegaram que o Haka é inadequado para um espaço político e que o protesto foi um desrespeito ao processo legislativo.
  • Apoiadores: Viram o ato como uma expressão legítima de indignação e resistência frente à opressão histórica.

Independentemente das críticas, o protesto chamou a atenção global, colocando em evidência o desafio contínuo de equilibrar as tradições culturais com as regras institucionais.

A força simbólica do Haka na luta por direitos

O ato de Hana-Rāwhiti Maipi-Clarke vai além do choque visual ou da quebra de protocolo. Ele é um lembrete poderoso de que, para os povos indígenas, a cultura não é apenas uma celebração, mas também uma ferramenta de luta.

O Haka no parlamento neozelandês é um chamado para que o mundo preste atenção aos conflitos não resolvidos e ao impacto das políticas atuais sobre as comunidades maoris. E, enquanto debates sobre o uso de tradições em espaços políticos continuam, o que fica claro é que a voz de resistência de Maipi-Clarke ecoou além das paredes do parlamento.

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