Objetos inicialmente usados para decoração são agora motivo de transtorno nas ruas, gerando confusões e até prisões no estado.
As bolinhas de gel, famosas por seu uso em decorações e eventos, agora são motivo de preocupação em várias cidades do estado de São Paulo. O que antes era um item inofensivo para enfeitar vasos e festas, agora está sendo utilizado em “guerras” organizadas entre grupos de jovens, que disparam as esferas uns contra os outros com réplicas de armas. Esse comportamento tem gerado confusões, transtornos e até prisões, levando as autoridades a emitir alertas sobre os riscos dessa prática.
Do vaso de decoração para as ruas
Inicialmente vendidas como um produto decorativo – absorvendo água e aumentando de tamanho para criar belos arranjos – as bolinhas de gel rapidamente migraram para outro uso. Grupos de jovens têm utilizado esses itens como munição em “guerras” improvisadas nas ruas, organizadas por meio de redes sociais. Utilizando réplicas de armas, os participantes se encontram em locais públicos para trocas de disparos com as esferas, transformando o que parecia ser uma brincadeira em situações caóticas.
Vídeos dessas “guerras” circulam nas redes sociais, mostrando encontros em que os participantes disparam bolinhas de gel enquanto correm por vias públicas. A situação é ainda mais preocupante porque as réplicas de armas usadas nesses encontros se assemelham a armas reais, o que causa confusão e medo entre pedestres e moradores.
Intervenção da Polícia e riscos envolvidos
A Polícia Militar de São Paulo já interveio em várias dessas atividades, realizando prisões e apreensões. Em setembro, na zona sul da capital, 18 pessoas foram detidas, incluindo menores de idade, depois que uma dessas brincadeiras saiu do controle. Um homem foi atingido no rosto por uma dessas esferas, o que gerou um tumulto no local.
Apesar de os participantes alegarem que as bolinhas de gel são inofensivas, as autoridades alertam que essas atividades podem causar acidentes de trânsito, ferimentos e até mal-entendidos, já que as réplicas de armas usadas nas “guerras” podem ser confundidas com modelos reais.
Além disso, o Estatuto do Desarmamento proíbe a comercialização de réplicas de armas que possam ser confundidas com armas de fogo, mas muitas dessas pistolas estão sendo vendidas livremente em redes sociais, especialmente para jovens e até crianças.
Problema em crescimento
A prática, que já atingiu diversas cidades do interior e capital de São Paulo, está se espalhando rapidamente. Em Campinas (SP), as chamadas “guerras de bolinhas de gel” já reúnem centenas de pessoas em cada evento. A popularização também elevou os preços dos equipamentos, com pistolas e munições custando entre R$ 300 e R$ 700.
Para as autoridades, a maior preocupação é que o uso dessas réplicas pode provocar reações inesperadas de pedestres ou das forças de segurança, criando situações de risco que poderiam ser facilmente evitadas. Mesmo com a aparência lúdica das bolinhas de gel, o perigo que elas representam em cenários públicos é real.
Parece brincadeira, mas o problema pode ser bem grave:
Pra você que se perguntava daonde vinham os Skittles pic.twitter.com/faUtNyasns
— Zanfa (@Zanfa) October 11, 2024
Trocando em miúdos
O que começou como um simples item de decoração agora se transformou em um problema de segurança pública. As autoridades já estão agindo para conter a situação, mas os encontros continuam a acontecer. Embora o apelo inicial das bolinhas de gel fosse estético e inofensivo, seu uso indiscriminado nas ruas revela o quão rápido um objeto comum pode se tornar perigoso em mãos erradas.
Acompanhe uma reportagem sobre o tamanho desse problema:
Influência das Redes na estética bandida: “Embrutecimento” juvenil
Nos últimos anos, o impacto das redes sociais e a glamourização da estética bandida têm contribuído para um preocupante emburrecimento coletivo da juventude, que, imersa em uma realidade distorcida, replica comportamentos perigosos vistos em filmes, videogames e mídias digitais. O que começa como entretenimento ou “brincadeiras inofensivas” muitas vezes acaba em consequências graves, como ferimentos, perseguições policiais e até mortes.
Exemplos não faltam. Pegadinhas filmadas para redes sociais, que buscam viralizar, frequentemente saem do controle, resultando em confusões sérias e situações em que a irresponsabilidade juvenil encontra as autoridades de forma trágica. O fascínio por uma cultura de violência e rebeldia, amplamente explorada pelo cinema e pelos jogos digitais, cria um cenário em que muitos jovens normalizam o risco, acreditando que tudo faz parte de uma grande performance para ganhar visibilidade online.
Essa distorção entre ficção e realidade gera situações que, cada vez mais, exigem a intervenção das autoridades e acabam causando danos irreparáveis.