Escavações revelam objetos de povos com mais de três mil anos e paralisam melhorias urbanas na região.
Um trabalho de requalificação urbana no porto de São Mateus, localizado no Norte do Espírito Santo, foi interrompido após a descoberta de artefatos arqueológicos que podem datar de até três mil anos.
Durante as escavações para melhorias de drenagem, pavimentação e iluminação, foram encontrados pedaços de cerâmica do século XIX, além de outros objetos históricos. Com a revelação de um potencial tesouro arqueológico, as obras foram paralisadas e ainda não há uma previsão de quando poderão ser retomadas.
No meio do caminho havia relíquias históricas
O local das escavações é um sítio histórico protegido por lei, e, durante os trabalhos de modernização, foram descobertas peças como faianças portuguesas do século XIX, pedras, uma chave e um cadeado.
Além disso, indícios de um sambaqui – um tipo de sítio arqueológico formado por depósitos de conchas e outros materiais orgânicos de povos pré-coloniais – também foram encontrados. Esses achados indicam que a região pode ter sido ocupada por povos antigos há mais de três mil anos, o que aumenta ainda mais a importância do local.
“Encontramos o que nós chamamos de faianças, que são louças portuguesas que eram utilizadas na primeira e segunda metade do século XIX e também encontramos um sambaqui em potencial, que são povos coloniais pré-cerâmicos que podem, de repente, estimar mais de três mil anos” explicou o Júlio Cesar, envolvido nas descobertas.
Importância histórica de São Mateus
São Mateus tem um papel significativo na história do Brasil, principalmente a partir do século XVI, quando a cidade serviu como um ponto estratégico para o interior do país, incluindo as rotas que levavam às minas de ouro de Minas Gerais. Além disso, a cidade foi um centro de tráfico de escravizados, o que adiciona uma camada de complexidade e importância às descobertas feitas no local.
“A gente tem a expectativa, justamente pela importância histórica e todo o movimento importante do porto, que a gente encontre materiais, objetos. É uma importância nacional, eu diria. Tanto o Ministério da Cultura e o Iphan acompanhando isso dá essa dimensão também da importância do sítio histórico de São Mateus para o país “, afirmou Fabrício Noronha, o secretário de estado da Cultura.
Próximos passos e decisões do Iphan
Diante das descobertas, um relatório preliminar foi enviado ao Iphan, que está analisando as informações coletadas no local. O Instituto indicou a necessidade de um Programa de Gestão do Patrimônio Arqueológico, para garantir que as pesquisas sejam aprofundadas e que a integridade dos materiais encontrados seja preservada.
Esse programa também inclui ações de monitoramento contínuo nas áreas do entorno, onde as obras continuam de forma limitada. O Iphan solicitou ainda que o responsável pela obra complemente o Projeto de Salvamento Arqueológico, reforçando a importância de ações educativas e de conscientização sobre o patrimônio encontrado.
Até que o relatório final seja concluído, as atividades na área central do porto seguem paralisadas, e o foco está na proteção dos achados e na preservação da história da região.
Planejamento para o futuro do sítio histórico
Enquanto as escavações arqueológicas e estudos avançam, a Secretaria de Estado da Cultura já discute a possibilidade de reformar os casarões históricos da região. Segundo o secretário, um plano de uso do sítio histórico está sendo desenvolvido em parceria com a comunidade local, a prefeitura e o Iphan.
” A gente discute com o grupo, envolvendo a comunidade, envolvendo o Iphan, a prefeitura, para discutir justamente essa reforma que já está inscrita no programa ‘Fundo a Fundo’ e, em breve, o governo transfere esse recurso para que o município execute também essa obra da reforma do casario e aí a gente completa todas as etapas desse processo “, acrescentou Noronha.
O futuro do sítio histórico de São Mateus, portanto, depende agora das decisões tomadas pelos órgãos responsáveis e do avanço das escavações arqueológicas. A descoberta de peças tão antigas reforça a importância de proteger esse patrimônio e de promover o estudo mais detalhado de um dos capítulos mais antigos da história do Espírito Santo e do Brasil.
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